O Tambor


O tambor é a imitação das batidas do coração humano e representa,
para os xamãs, o pulsar da própria Terra, seu ritmo, o som sagrado de
suas entranhas. Por isso, é o instrumento que facilita o acesso à cura e
sustenta a abertura do coração do homem quando ele se conscientiza da
necessidade de transformar os padrões cristalizados em seu próprio
caminhar.
Antropólogos e pesquisadores acreditam que o tambor surgiu
ainda na Era Glacial. O homem primitivo teria percebido que o seu som
criava um ritmo coletivo, grupal, mágico, aglutinador. E até hoje nativos
e etnias em todo o mundo usam o tambor para despertar a energia e o
poder em cada um dos participantes de cerimônias e rituais, seja na
Sibéria, África ou Brasil, seja na índia, Japão ou Tibet.
A energia coletiva gerada a partir do seu ritmo pode ser
direcionada para apoiar rituais de cura, orações, viagens xamânicas ou
jornadas. O tambor, chamado de canoa do xamã, é o seu guia nos mundos
paralelos da consciência alterada e sua batida constante e monótona atua
como uma onda mensageira, primeiro para ajudar o curandeiro a entrar
no transe e depois para sustentá-lo em sua viagem. E como o tambor
conecta o coração da pessoa que empreende esta jornada com a batida do
coração da Mãe Terra, isso lhe garante uma maneira segura de voltar ao
corpo físico. Seu uso evita que o curador se perca na realidade xamânica
ou perca seu próprio equilíbrio ao vivenciar os mundos paralelos.
Pesquisas científicas demonstram que o tambor "produz
modificações no sistema nervoso central. O estímulo rítmico afeta a
atividade elétrica em muitas áreas sensórias e motoras do cérebro que
não costumam ser afetadas através de suas conexões com a área sensória
que está sendo estimulada", diz o especialista em xamanismo, Michael
Harner.
O nível de freqüência dos chocalhos — os maracás dos nativos
brasileiros — é mais alto. Juntos, tambor e chocalho se complementam,
sustentando e dando forma a uma rede de sons que ilumina o curador
em sua busca pela alma, energia, saúde e equilíbrio.
Os tambores xamânicos aparecem em diversas formas: rasos, com
um só tampo, duplo, com dois tampos de pele, o africano, que fica em pé
e também tem o couro de um lado só.
Pesquisas de diversos estudiosos, a exemplo de Andrews Neher,
revelam que a indução sônica do tambor pode afetar o alinhamento da
freqüência cerebral com estímulos auditivos externos e que esse
alinhamento pode reequilibrar o sistema nervoso central. Melinda
Maxfield descobriu que o ritmo do tambor facilita o acesso às imagens de
conteúdo ritualístico e cerimonial existentes na psicomitologia de cada
indivíduo, facilitando a cada pessoa o caminho para chegar à cura e à
ajuda e transformar patologias.
Para se compreender melhor o que os pesquisadores descobriram é
preciso entender as freqüências das ondas cerebrais, medidas normal
mente por meio do eletroencefalograma (EEG). A freqüência das ondas é
medida em ciclos por segundo, ou Hertz (Hz), e pelo comprimento da
onda. Elas se apresentam em quatro tipos:
Delta, abaixo de 4 Hz, a mais longa e lenta; está associada ao sono
ou inconsciência.
Teta, de 4 a 8 Hz, está associada a estados de sonolência próximos
da inconsciência, os períodos antes de despertar ou adormecer.
Considerada ainda como os estados de devaneios e imagens
hipnológicas ou semelhantes às que surgem no sonho. Manter a
consciência neste estado só com treinamento, como a meditação.
Alfa, de 8 a 13 Hz, está relacionada com os estados de relaxamento
e bem-estar geral. Esta freqüência é produzida na região occipital do
cérebro (córtex visual) quando os olhos estão fechados. A consciência
está alerta, embora não concentrada, ou está concentrada no mundo
interior.
Beta, além de 13 Hz, associa-se à atenção ativa e concentração no
mundo exterior e também nos estados de tensão, ansiedade, medo e
diante do perigo.
Na maioria dos casos, o ritmo do tambor xamânico situa-se na
freqüência monótona de três a quatro batidas por segundo, o que coloca
a pessoa no estado de freqüência Delta. No entanto, este não é o único
ritmo e ele pode mudar a depender da intenção do ritual ou cerimônia.
Os índios Salish, por exemplo, usam uma freqüência de quatro a sete
batidas por segundo, freqüência da onda Teta no cérebro humano.
O uso do tambor nas jornadas e rituais xamânicos é indispensável e
bem diferente das demais formas de uso deste instrumento. A literatura
etnográfica notifica que a utilização do tambor nas atividades religiosas
seculares é tão diversificada quanto as culturas que o empregam em seus
rituais, cerimônias, festas comemorativas, celebrações, cura e sacrifício,
ritos de passagem, declarações de guerras, iniciações, etc.
Em muitas tradições se diz que os xamãs usam o tambor para, em
estado alterado de consciência, entrar em outros reinos e realidades,
interagindo com o mundo espiritual em benefício de sua comunidade.
Os senhores do êxtase, como também são conhecidos, afirmam que
dirigem seu tambor pelo ar, que ele é seu cavalo, sua ponte de arco-íris
entre os mundos físico e espiritual.
Algumas culturas usam o tambor aliado com outros instrumentos
(chocalhos, ressonância de varetas, ossos, metais e cantos, especialmente
cantilenas. repetição de sons monótonos, sem variações) como técnica
para alcançar uma ligação com a cura ou obter orientação espiritual.

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